Faz-de necessário insistir na competência dos cristãos
As primeiras páginas da Bíblia mostram o plano de Deus. Fomos criados para viver como filhos de Deus, irmãos uns dos outros e senhores da natureza. Nossa felicidade está na comunhão com o Pai de todos, com Seu Filho amado, que se fez Homem para nos salvar, no vínculo de amor, que é o Espírito Santo.
O clima do Paraíso se reflete na terra quando amamos o próximo. A Igreja, querida e fundada por Jesus Cristo, esposa imaculada do Cordeiro, enriquecida com os dons do seu Fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória. Este povo messiânico, ainda que não abranja, de fato, todos os homens, e não poucas vezes apareça como um pequeno rebanho, é, contudo, para todo o gênero humano o mais firme germe de unidade, de esperança e de salvação. Estabelecido por Cristo como comunhão de vida, de caridade e de verdade, é também por Ele assumido como instrumento de redenção universal e enviado a toda a parte como luz do mundo e sal da terra (cf. LG 5 e 9). É sua missão construir a fraternidade, contribuindo para a superação das distâncias sociais, superando preconceitos, estabelecendo canais de diálogo e relacionamento sincero entre os povos.
Também o livro do Gênesis, na belíssima linguagem poética e religiosa, expressa o trato amigável e equilibrado com a natureza. Dominar a terra nunca significou para o homem bíblico um relacionamento de exploração descontrolada, mas o acolhimento aos dons de Deus, utilizando-os para o bem de todos.
Os Atos dos Apóstolos mostram o clima de partilha e de comunhão, não vistos como ideal inalcançável. Para alcançar a meta os cristãos desejam suscitar o uso adequado dos bens, que os primórdios do Cristianismo chamaram “comunhão de bens”. No correr dos séculos, os religiosos, religiosas e muitas outras pessoas consagradas a Deus experimentaram-na, suscitando circulação de bens, opondo-se conscientemente à sua concentração egoísta. Também as Comunidades Paroquiais e outras formas de vida comunitária eclesial estão aí presentes em todos os recantos, testemunhando os frutos materiais e espirituais das opções suscitadas pela caridade.
Pretender dominar a Deus, ou escravizar e ignorar o próximo ou deixar-se dominar pelo poder da posse descontrolada dos bens da terra são expressões de pecado, a ser vencido, a cada dia, primeiro pela graça de Deus que opera na vida das pessoas, mas também pela disposição dos cristãos de serem criaturas novas e construtores de um mundo novo. Os extremos de miséria ou de riqueza são fontes não tanto de revolta ou orgulho, mas propostas à nossa criatividade, começando pela atenção às pessoas mais próximas, para chegar às capacidades a serem desenvolvidas por cristãos que atuam em âmbitos mais amplos de decisão na sociedade, chamados a elaborar as leis, administrar a sociedade e construir estruturas novas, mais coerentes com o plano de Deus.
Faz-se necessário insistir na competência dos cristãos nos diversos campos de atividade. Homens e mulheres bem preparados, prontos para atuar como competentes administradores dos bens confiados por Deus à humanidade. Jovens cristãos dedicados seriamente ao estudo, para serem, sim, os melhores em seus campos escolhidos de acordo com a vocação descoberta. Paróquias e comunidades que testemunhem sua capacidade para assumir os serviços da caridade, a prática da justiça e as construções das igrejas, como se vê em tantos lugares.
No Evangelho de São Lucas (16, 1-13), surpreende-nos o elogio de Jesus a um administrador “esperto” na defesa de seus próprios interesses. De fato, “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16, 8). Na realidade, o Senhor quer estimular a plena dedicação de cada pessoa de fé, quem sabe aprendendo da prontidão e a inteligência de gente que busca o mal. A lição continua atual!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Adalberto Lima
Vocacionado Diocesano
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