Um príncipe, saindo um dia a passeio, passou bem perto de um mendigo que lhe pediu uma esmola dizendo:
- Faça a caridade a um pobre irmão.
O príncipe parou, olhou o pobre e disse: - Eu não tenho irmãos pobres.
O mendigo replicou: - Nós somos todos irmãos em Jesus Cristo. O príncipe lhe deu uma moeda de ouro. E assim fez por dez dias em seguida. No décimo primeiro dia, o príncipe resolveu disfarçar-se de mendigo e passando perto do outro lhe disse:
- Faça a caridade a um pobre irmão.
No dia de Pentecostes refletimos sobre o dom do Espírito Santo que Jesus deixou para os seus amigos. O Divino Espírito Santo é, podemos dizer assim, o “dom dos dons” ou, se preferirmos, o dom que dá sentido e força a todos os outros dons. Hoje se fala muito dos dons do Espírito Santo, também conhecidos como “carismas”. São Paulo, nas suas cartas, fez muitas listas desses dons; nós poderíamos também juntar outros. Não porque inventamos esses dons, mas simplesmente porque tudo o que nós temos recebido de qualidades e capacidades, a começar por nossa própria vida, pela fé e pelo amor, é algo que ganhamos de presente da bondade de Deus. Em outras palavras: se tudo o que temos e somos é dom de Deus, também tudo isso deveria ser colocado a serviço dos nossos irmãos. Deveríamos saber doar o que recebemos em dom. Afinal, fazer da nossa existência um dom “bom” para os outros é seguir, de perto, os passos do Mestre Jesus que não poupou a sua própria vida. Nós também deveríamos usar para o bem o que somos e temos.
Isso acontece também nas nossas paróquias, comunidades, grupos e movimentos. Se quiserem interpretá-lo assim, é um apelo que eu faço. Há muita bondade e muitas capacidades entre nós. Há criatividade, fartura de arte, de oração fraterna. Temos muitas idéias e propostas que, se fôssemos mais unidos, poderiam mudar ao menos alguma coisa ao nosso redor. Mas tudo isso não sai de nossa casa, do nosso grupo, do círculo fechado das mesmas pessoas. Quem tem algo bom deve saber doá-lo também aos outros. Deve aprender a caminhar junto com os outros, num intercâmbio de dons; no diálogo, na paciência, na comunhão. Não podemos nos fechar somente no nosso grupo de “amigos”, que pensam como nós, nos agradam e nos fazem sentir bem. Existem também os outros, com e para os quais vale o mesmo. Os dons crescem e se multiplicam quando são trocados. Dando bom exemplo estimulamos os outros. Oferecendo uma boa palavra enriquecemos quem estava precisando. Mas também escutando o que outros dizem e conhecendo o que os outros fazem, aprendemos sempre alguma coisa nova. Ficamos felizes com as coisas boas que sabemos fazer, porém deveríamos também nos alegrar com o bem que outros fazem.
Nem sempre é assim. Se usarmos dos dons recebidos exclusivamente para a nossa vantagem, ou para alguns escolhidos, estamos aproveitando somente parte das possibilidades que temos. Quanta inteligência é usada só para proveito próprio ou, muitas vezes, para enganar os outros menos expertos? Quanta bondade fica trancada entre as paredes de uma casa, pela incapacidade de sair para doá-la aos outros? Quantas vezes a nossa generosidade não consegue sair do nosso grupo, dos nossos amigos, dos que gostamos, como se os outros não existissem e não precisassem também ser amados? Somos bons, mas não amamos bastante. Selecionamos tanto os que decidimos amar que no fim reduzimos a quase nada o nosso amor. Desconfiança? Medo? Ou talvez porque não queremos doar um pouco do que recebemos. Ainda não entendemos a beleza e a riqueza do dar e receber por amor.
É fácil ser amigo de príncipes para pedir ou exigir; devemos aprender a sermos amigos, também, dos outros mendigos para dar e trocar um pouco do que recebemos. Com certeza descobriremos que todos nós somos mais ricos do que pensávamos e, ao mesmo tempo, sempre tão necessitados de aprender com os outros. Os dons oferecidos enriquecem a todos. Vamos ficar todos príncipes. Mendigo continua sendo aquele que não sabe doar nada, ou pouco demais.
Dom Pedro José Conti
Bispo do Macapá
Bispo do Macapá
Adalberto Lima
Vocacionado Diocesano
Vocacionado Diocesano
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