O termo sacerdócio abriga na sua significação semântica referência à generosidade e ao desvelo no exercício de uma missão. A missão exercida de modo sacerdotal significa corajosa e denodada oferta de si, porque assume sacrifícios, ultrapassa com destemor horários, desafios, situações difíceis e adversas. Vale o bem, o que beneficia o outro. O bem daqueles que mais precisam.
Sacerdócio, então, torna-se referência honrosa e qualificadora de um exercício profissional, de um devotamento voluntário a causas humanitárias e nobres na edificação de uma sociedade mais justa e solidária.
Sacerdócio, no sentido estrito de sua significação, é referência àquele que consagra sua vida a serviço do Evangelho, no seu anúncio, movido por um amor apaixonado por Jesus Cristo. Significa o permanente desafio de traduzir este amor em gestos e comprometimentos, como guia de um povo, educador de sua fé, referência de sua unidade na experiência de celebrar e testemunhar o Deus da vida.
O sacerdote, em expressão própria da teologia sacerdotal da chamada Carta aos Hebreus, é ‘tirado do meio dos homens, e constituído em seu favor’. Constituído em favor de todos, por consagração, por uma ritualidade que marca, indelevelmente, o seu ser. O sacerdote é selado na sua existência, apesar de seus limites humanos, como dom, em tudo o que faz, em tudo o que é. É desafiado a ser coerente, verdadeiro, sincero, transparente, a exemplo de seu Mestre e Senhor que ‘não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
Sábia, oportuna e abençoada foi a convocação feita pelo Santo Padre Bento XVI para o início do Ano Sacerdotal, em 19 de junho de 2009, com o encerramento hoje, dia 11, durante a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, momento rico de espiritualidade na liturgia da Igreja Católica. Esta festa emoldurou o caminho do Ano Sacerdotal, acentuando a meta primordial deste ano, que segundo o Papa Bento XVI pretendeu ‘contribuir para fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo’.
O Santo e abnegado São João Maria Vianney (Santo Cura d’Ars), foi escolhido para ser o patrono de todos os sacerdotes - atualmente mais de 400 mil em todo o mundo. Uma escolha feita para iluminar a compreensão da figura do sacerdote como dom. Escolha feita por ocasião do 150º ano de partida de São João Maria Vianney para a casa de Deus, na vida eterna - ele que é o exemplo concreto, sempre atual e inspirador, de como fazer desta dádiva do sacerdócio um dom.
O Santo Cura d’Ars costumava dizer, relembra o Papa Bento XVI, que ‘o sacerdócio é o amor do coração de Jesus’, evocando o dom imenso que os sacerdotes são para a Igreja e a humanidade. O testemunho pessoal do Papa Bento XVI, certamente, serve como modelo para seu sentimento quanto à presença de sacerdotes na própria vida, na vida da família, da comunidade e presença na sociedade.
O Papa diz: “Eu mesmo guardo ainda, no coração, a recordação do primeiro pároco junto de quem exerci o meu ministério de jovem sacerdote: deixou-me o exemplo de uma dedicação sem reservas ao próprio serviço sacerdotal, a ponto de encontrar a morte durante o próprio ato de levar a santa comunhão a um doente grave. Depois, revejo na memória os inumeráveis irmãos que encontrei e encontro, inclusive durante as minhas viagens pastorais às diversas nações, generosamente empenhados no exercício diário de seu ministério sacerdotal”. Este testemunho do Papa está no coração de tantos, comprovando o sentido do sacerdócio como dom.
Hoje, o mundo se volta para a Praça de São Pedro, no Vaticano, em Roma, e impressionam as cenas maravilhosas. Desde ontem, milhares de sacerdotes presentes, bispos, evangelizadores e ministros - o Povo de Deus ao redor do altar, para celebrar esse grande dom, sob a presidência terna e exemplar do sacerdote que é o Papa Bento XVI. Esse momento abre um novo ciclo na vida da Igreja, na coragem de ações e na qualificação de empenhos, fortalecendo o dom do sacerdócio ao fazer de cada Padre um anunciador da Palavra de Deus, educador da fé e da moral da Igreja.
O dia de hoje é de festa, sem triunfalismos, pela alegria do dom do sacerdócio. Numa grande rede de ternura e amor, recordando sacerdotes amigos, servidores, presença de Deus nas suas vidas. Aceite o convite para participar dessa festa, com um gesto simples e significativo, demonstrando gratidão e amor ao seu sacerdote conhecido, amigo: com uma oração, com um telefonema, um contato por meio eletrônico, uma carta, um abraço, ou a presença na celebração eucarística. Tudo fecundado por lembranças de empenhos abnegados, proféticos. Lembranças de palavras e gestos do dom do sacerdócio dom.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belho Horizonte - MG
Adalberto Lima
Vocacinado Diocesano
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